sábado, 17 de setembro de 2011

PRIMAVERA ÁRABE

O mundo Árabe muçulmano está sofrendo com o avanço da “epidemia” da pró-democracia e da justiça social. O vírus da democracia que está em expansão pelos países muçulmanos,que derrubaram chefes de estados – situação inédita no Oriente médio – expõem para as elites “encasteladas” no poder as décadas de insatisfações da população não atendida pelo estado, nos seus direitos sociais, civis e políticos, em um mundo globalizado cada vez mais aberto e livre. Esta “epidemia”- bem vinda - não está perdendo força mesmo com as mortes de civis heróis, pelo contrário, vem se fortalecendo a cada ação desesperadas de governos antidemocráticos. A origem da “epidemia” está na falta de liberdade, no descontentamento com a política-econômica e das insatisfações dos jovens muçulmanos mais escolarizados e críticos.

TUNÍSIA

Todo este conjunto de fatores foi exposto na Tunísia, no início deste ano, onde o presidente Zine El Abidine Ben Ali que ocupava o cargo de um governo corrupto desde 1987, foi deposto em janeiro 2011. O estopim dos protestos foi desencadeado quando um tunisiano foi impedido de vender seus produtos por policiais, em uma barraca, na cidade de Sidi Bouzid. Depois da revolta popular – conhecida como Revolução de Jasmim – O regime tunisiano caiu no começo de janeiro, quando o movimento popular tomou as ruas e ganharam o apóio dos militares do país, pedindo a renúncia do presidente. O presidente Zine El Abidine Ben Ali renunciou e deixou o país, que tem como chefe de governo da Tunísia, atualmente, Fouad Mebazaa com apóio e reconhecimento internacional

EGITO

O Egito, o país mais populoso do mundo muçulmano, no Oriente Médio, foi o primeiro a enfrentar manifestações inspiradas pela “revolução do jasmim”. Governado pelo presidente Hosni Mubarak, por três décadas (1981 a 2011), desde o assassinato do presidente Anwar Sadat, administrou um estado sob a Lei de Emergência, que restringia as liberdades civis e políticas, como justificativa de combater o terrorismo fundamentalistas. A crise econômica, o alto índice de desemprego e os altos preços dos alimentos contribuíram para que a “epidemia” da democracia afetasse o governo egípcio – Governo que mantém uma relação pacifica com Israel desde 1979 e com os Estados Unidos da América – não suportou a pressão popular. Com a renúncia do presidente Hosni Mubarak, uma junta militar tomou posse de forma transitória até as eleições previstas para o final do ano de 2011

LÍBIA

É mais um país do mundo árabe a enfrentar uma onda de revolta popular, que está levando ao fim o regime do ditador Muammar Kadhafi, que esteve no poder desde 1969 (golpe de estado). Em 1977, ele criou o conceito de “Estado das massas”, em que o poder é exercido através de milhares de “comitês populares”. Muammar Kadhafi, não resistiu essa “avalanche” pela democracia e melhoria das condições socioeconômicas. Com aval da ONU e apóio da OTAN os rebeldes conseguiram minar as forças de apóio do governo e assumiram o governo Líbio. O reconhecimento veio com as visitas dos chefes de estados: o presidente francês, Nicolas Sarkozy, do primeiro-ministro inglês, David Cameron e do premiê da Turquia Tayyip Erdogan, na capital da Tunísia, Trípoli. E, com a ONU, onde a Assembléia Geral da ONU aprovou, na sexta-feira, 16/09/2011, uma solicitação do CNT (Conselho Nacional de Transição)órgão político dos rebeldes da Líbia, para considerar os seus enviados como os únicos representantes líbios na organização. Na prática, a ONU reconhece o governo interino da Líbia, que derrubou Muamar Kadafi. E, essa decisão, permite que o chefe interino do governo líbio, Mustafá Abdul Jalil, participe na Assembléia Geral anual da ONU,

IÊMEN

A onda de protestos no mundo árabe chegou ao Iêmen no final de janeiro. A crise agravou-se em março, quando uma grande manifestação na capital (Sanaa) acabou com a morte de dezenas de pessoas. Os manifestantes exigiram a renúncia do presidente-ditador iemenita, Ali Abdullah Saleh, que governava o Iêmen desde 1979, quando o país ainda era dividido entre norte e sul. Com a unificação, se manteve no poder e era um dos principais aliados dos EUA na luta contra o terrorismo. No Iêmen, a sociedade é politribal e com as forças de segurança, é um dos pilares de sustentação país. Em meio à crise, o governo de Saleh perdeu apóio da própria tribo Hashid (no norte do país) e também dos militares. Os protestos na capital do Iêmen continuam para exigir um acordo de transição diante da ausência do presidente Ali Abdullah Saleh (que sobreviveu a um atentado a bomba em uma mesquita e está em tratamento na Arábia Saudita). Os manifestantes ainda pedem que o presidente seja julgado por violações dos direitos humanos. O ditador do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, na Arábia Saudita, resolveu delegar poderes ao vice-presidente, Abdo Rabu Mansur Hadi, negociar com a oposição a transferência pacífica do poder no país.

SÍRIA

Desde março, protestos contra o presidente, Bashar al-Assad - atual presidente da Síria, filho e herdeiro de Hafez AL-Assad, que governou de 1970 até sua morte em 2000 - desencadeiam reações violentas das forças de segurança do governo. A população síria que tem suportado décadas de depressão econômica, repressão política e corrupção sob o governo da família Assad desde 2001, iniciaram protestos inspirados pelas revoluções que derrubaram os líderes do Egito e da Tunísia. Estes protestos começaram na cidade de Deraa, no sul do país, onde estudantes foram presos por pichar a frase "As pessoas querem a queda do regime" nas paredes de sua escola. Moradores protestaram, pedindo pela libertação dos jovens e as forças de segurança abriram fogo contra uma manifestação, com mortes e feridos. O levante rapidamente espalhou-se para outras cidades, incluindo Homs, terceira maior cidade do país, e Banias, na costa mediterrânea. Os manifestantes pedem por mais liberdade, o fim da corrupção e cada vez mais pela saída de Assad.

Todas as manifestações em curso no Oriente Médio: Tunísia, Egito, Iêmen, Líbia e Síria, são daquelas situações nas quais os cientistas políticos, historiadores, geógrafos e outros estudiosos das ciências sociais podem expressar suas opiniões, sem correr o risco de ser desmentido, pois são acontecimentos inéditos no mundo muçulmano, no oriente médio e norte da África. Neste sentido me arrisco em declarar, sem medo de errar, que os futuros de acontecimentos inesperados nestes países darão subsídios para novos textos.