sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O CERRADO APÓS A DÉCADA DE 1950

De todos os domínios morfoclimáticos brasileiros o cerrado tem sido o domínio que mais transformações vêm sofrendo desde a década de 1960. São transformações das técnicas de produção e transformações culturais, que tem afetado o próprio sistema de vida das populações.

Os antigos núcleos urbanos, quase todos originados em torno de atividades mineradoras, principalmente os do início do século XVIII vêem-se, de repente transformados em pólos regionais de inovações e agenciadores para o avanço das atividades agro-industriais.

As criações de Goiânia, posteriormente Brasília, paralelamente ao desenvolvimento do sistema viário e ao processo de modernização da agricultura, contribuíram para romper com modelos tradicionais de ocupação e produção. Em virtude do isolamento de certas regiões, algumas áreas de cerrados preservadas até os dias atuais no do oeste da Bahia, sul do Piauí e Maranhão. Com a criação do Estado de Tocantins e a construção de sua capital Palma, mais uma nova “onda” de modificações se intensificram.

Até bem pouco tempo as áreas do bioma Cerrado, não eram muito valorizadas, nem procuradas para implantação de grandes atividades agropastoris. As suas partes mais intensamente ocupadas estavam restritas ao subsistema de matas (áreas florestadas que existem dentro do sistema e que estão sempre associadas a solos de boa fertilidade natural). Por isso essas áreas foram as primeiras a receberem o impacto de uma degradação maior. Ao seu lado em escala menor, podem ser citadas as áreas que compõem o subsistema Cerradão e as Matas-Galerias.

As demais áreas que constituem as maiores superfícies do sistema, como o Cerrado, do Campo, das Veredas e Ambientes Alagadiços, em virtude das características dos seus solos (ácidos), não favorecem de imediato uma ocupação intensiva com o desenvolvimento de práticas agrícolas desenvolvidas. Com a utilização do calcário para a correção da acidez do solo, a introdução do arado e sistemas mecânicos de desmatamento e também a facilidade de irrigação transformou essas áreas, anteriormente impróprias para atividades agrícolas, em terras produtivas, outrossim, a substituição das pastagens nativas por espécies estrangeiras modificou radicalmente o quadro pastoril.

Os impactos sobre o ambiente causado por esse novo modelo de ocupação são visíveis e podem ser caracterizados pelos itens seguintes:

• Empobrecimento genético;
• Empobrecimento dos ecossistemas;
• A destruição da vegetação natural;
• Propagação de ervas exóticas;
• A extinção da fauna nativa;
• Diminuição e poluição dos mananciais hídricos;
• Compactação e erosão dos solos;
• Contaminação química das águas e da biota;
• Proliferação de cidades etc.

Estes fatores em conjunto geram inúmeros outros que, por sua vez, funcionam como agentes de atração populacional e modificações significativas do ambiente. As demandas de energia que exige a formação de grandes reservatórios e usinas geradoras produzem ações antrópicas de grande impacto natural e social.

Assim, o inicio do século XXI, encontra-se em suspenso o destino do cerrado. O novo código Florestal, que foi votado no senado e, agora se encontra na câmera, trará sua ruína ou salvação.

Embora a produção de conhecimento sobre o cerrado mereça aprofundamento, dispomos de informações suficientes para impedirmos uma degradação irreversível. O que se pode afirmar é que enquanto o desejo de explorar o cerrado tiver apenas raízes comerciais estrangeiras, a possibilidade de um programa racional de desenvolvimento será nula.